Por Dados pela Saúde |

Nascimentos caem no Brasil, mas maternidade após os 35 anos cresce

Gestação na adolescência também tem queda ano após ano, mas número ainda é alto em regiões mais carentes, como Norte e Nordeste 

 

Por Giovanna Balogh 

 

Os nascimentos têm diminuído ano após ano no Brasil e as mulheres têm optado pela maternidade cada vez mais tarde. Dados do Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos, do Ministério da Saúde, compilados pela plataforma Dados pela Saúde mostram que as gestações em adolescentes também têm caído nos últimos anos. No entanto, a redução é menor em regiões mais carentes do Brasil, como no Norte e Nordeste. 

O levantamento mostra que, entre 2011 e 2021, o número de nascimentos no Brasil caiu 8,27%, mas o total de bebês nascidos de mães com mais de 35 anos subiu 41,5%. A análise dos dados aponta ainda que, em 2011, apenas 10,9% dos nascimentos eram de mães com mais de 35 anos e que esse percentual em 2021 foi de quase 17%. A idade média das mães brasileiras passou de 24,7 anos em 1996 para 27,2 em 2021. 

O médico Rômulo Negrini, coordenador da obstetrícia do Hospital Israelita Albert Einstein, explica que o aumento das gestações mais tardias está relacionado à priorização dos estudos e carreira por parte das mulheres. 

“Existe muito preconceito e as mulheres querem buscar o seu espaço e ser  reconhecidas no trabalho antes de ter um filho”, observa o médico. O fenômeno está concentrado nas classes mais altas, nas quais as mulheres têm maiores possibilidades de formação acadêmica e ascensão profissional. 

Isso fica claro na análise dos dados estaduais. No Distrito Federal, uma das unidades da federação com maior renda per capita, quase 24% dos nascimentos de 2021 foram em mulheres com mais de 35 anos. Já no Pará, somente 10,24% dos bebês nasceram de mães nesta faixa etária. 

O adiamento, principalmente para depois dos 40 anos, reduz as chances de gravidez natural e aumenta os riscos de complicações na gestação, no parto e no pós-parto. Negrini diz que é possível engravidar naturalmente após os 35 anos, mas que isso fica mais difícil com o passar dos anos por causa da redução da fertilidade. “Não só a quantidade de óvulos como a qualidade deles também é reduzida. Por isso, muitas mulheres optam por congelar os óvulos ou recorrem a outros métodos para fertilização assim que surgem as dificuldades para engravidar”, diz o obstetra. 

O médico Jorge Kuhn, professor assistente do Departamento de Obstetrícia da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), explica que a gravidez tardia aumenta o risco de complicações como diabetes gestacional e pré-eclâmpsia. “Os riscos de ela ter um aborto espontâneo são maiores, assim como o de ter bebês com alguma malformação cromossômica, como a síndrome de Down”, esclarece o médico. 

Ele explica que, com a idade mais avançada, diminui a qualidade dos óvulos disponíveis naturalmente para fecundação. Assim, a partir dos 35 anos, eles entram em uma fase acelerada de “envelhecimento”, o que pode levar a uma falha durante a formação do bebê. O risco de ter um bebê com síndrome de Down é de 1 a cada 385 nascimentos aos 30 anos e passa para 1 a cada 100 nascimentos aos 40 anos.  

“A idade não impede de engravidar, mas é importante fazer um bom pré-natal e ter um médico que possa identificar possíveis doenças ou intercorrências e tratá-las”, completa Negrini. 

 

Gravidez na adolescência 

Enquanto o número de partos entre mulheres mais velhas cresce, a gestação na adolescência vem caindo. Na faixa etária dos 10 aos 14 anos, o número de nascimentos diminuiu 37,35% entre 2011 e 2021. Entre os 15 e os 19 anos, a redução foi de 35,02% no período. No ano de 2011, foram 560.888 nascimentos de bebês de mães entre 10 e 19 anos e esse número caiu para 363.795 em 2021. 

A médica Cláudia Barbosa Salomão, da comissão especializada em ginecologia da infância e da adolescência da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), diz que a redução acontece historicamente e que é preciso avaliar os dados de 2022 para ver se essa queda continuará crescente. “Não podemos desconsiderar que tivemos uma pandemia e, por conta do isolamento social, precisamos aguardar os números deste ano para avaliar se essa redução continua. No período mais crítico da pandemia, os jovens tiveram menos relação sexual. Até poucos anos atrás, tínhamos meio milhão de partos por ano de adolescentes”, comenta. A tendência de queda, porém, é anterior ao período pandêmico. 

Ela atribui as reduções de gestações na adolescência à informação dos jovens sobre o uso de métodos contraceptivos. “Falamos muito sobre as meninas, mas é preciso que os meninos tenham consciência de que evitar uma gestação também é papel deles e, por isso, devem ser incentivados a usar preservativos pensando em evitar tanto uma gravidez como uma IST (infecção sexualmente transmissível)”, diz a médica. 

Salomão explica que uma gestação na adolescência pode prejudicar a jovem e ter impactos no futuro dela e da família. “Muitas meninas abandonam a escola, precisam arrumar qualquer emprego e acabam ganhando menos, o que traz impactos no seu futuro. Quando não é a adolescente que para de trabalhar ou estudar, é alguém de sua família, normalmente a avó materna que fica em casa para cuidar do neto.” 

A especialista diz que a maioria das gestações na adolescência acontece na faixa etária dos 15 aos 19 anos. Dos 10 aos 14 anos, qualquer relação sexual é considerada estupro de vulnerável, conforme previsto no Código Penal. É importante dizer que o aborto em casos de estupro é previsto em lei, mas nem todas têm acesso a ele. 

A gravidez na adolescência pode ser considerada de alto risco a depender da idade e do histórico da paciente. A médica diz que algumas vão ter uma gestação tranquila, principalmente aquelas acima dos 14 anos que já menstruaram há pelo menos três anos. 

A obstetra Leila Katz, coordenadora da UTI obstétrica do Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira (IMIP) e professora da pós-graduação do IMIP e da Universidade Católica de Pernambuco (UNICAP), diz que quanto mais jovem, maiores os riscos. “Uma menina que não tem o corpo desenvolvido corre risco de vida se levar uma gravidez adiante”, afirma.  

A gestação na adolescente também tem maior risco de parto prematuro, pré-eclâmpsia e quadros de anemia por conta da má nutrição materna. “Tudo isso traz impactos também na saúde do bebê. Por isso é importante um pré-natal adequado e um acompanhamento para ver se é ou não necessário encaminhar para um pré-natal de alto risco, inclusive para analisar quadros psicológicos, pois é maior a incidência de depressão e ansiedade na adolescente grávida e puérpera”, ressalta. 

 

Regiões mais carentes 

Diferenças regionais também são observadas nos índices de gravidez na adolescência, mais comum em classes mais vulneráveis. “A gestação na adolescência acontece em todas as classes sociais, mas existe uma proporção maior nas famílias mais pobres. Algumas meninas optam pela gestação como uma forma de se proteger de diferentes tipos de violência, como se o fato de ela ser mãe a afastasse de algumas vulnerabilidades. Outras engravidam vítimas de violência, como estupros que são praticados por alguém de confiança dessa menina, como o próprio pai, tio ou padrasto”, diz Salomão. 

De acordo com os dados do Ministério da Saúde, enquanto Estados ricos como Santa Catarina e Paraná tiveram reduções de mais de 40% no número de gestações na adolescência entre os anos de 2011 e 2021, no Acre e em Roraima essa queda foi de 12,95% e 15,61%, respectivamente, no mesmo período. 

A médica diz que as estatísticas mostram que, normalmente, quem é mãe adolescente volta a engravidar num período de até dois anos. “A reincidência é frequente, o que perpetua o ciclo de pobreza”, diz. Um estudo da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) divulgado pela Agência Einstein mostra que 1 em cada 5 adolescentes gestantes volta a engravidar antes de chegar à vida adulta

Katz diz que a gestação na adolescência ocorre, principalmente, por falta de educação sexual nas escolas, ainda considerada um tabu. “As meninas não são educadas para se proteger. Algumas pessoas ainda acham que falar sobre o tema vai estimular o jovem a ter relação sexual, mas não é isso. Ao oferecer educação sexual, reduzimos os abusos e as gestações também”, diz a médica. “Uma gestação desestabiliza a vida dessa menina, que tem que abrir mão dos estudos, da carreira. O maior risco ou prejuízo está associado a tudo o que ela precisa se privar por conta de uma gravidez não planejada.”  

Dados por perfil

Preencha um formulário abaixo e compare seu perfil

Nascimentos

Busque o número de nascimentos por idade da mãe, estado e tipo de parto

Mortalidade

Conheça as principais causas de morte em um determinado perfil e saiba mais sobre elas